“Tripalium versus poiesis”

15/09/2017 09:12

 

Meu cronista preferido, o Antonio Prata, algumas vezes escreve sobre a dificuldade de escrever crônicas e todas elas, pelo que me lembro, ficaram excelentes. Creio que, para alguém que vive do ofício da escrita, deva ser algo angustiante. Lutar contra o tempo, cumprir com o compromisso e entregar o texto a tempo para publicar. Não, não é um trabalho fácil.

Mario Sergio Cortella, no livro Qual é a tua obra?, tem um texto “Tripalium versus poiesis”, em que faz uma detalhada explanação da concepção de trabalho no mundo ocidental.  Da etimologia (tripalium vem do latim, instrumento de tortura) à contextualização histórica, religiosa e filosófica ele nos fornece argumentos para a concepção da ideia de trabalho como castigo e propõe uma inversão dessa percepção, através da compreensão do termo pela ideia do que os gregos chamavam de poiesis, “que significa minha obra, aquilo que faço, que construo e que me vejo”.  Ele lembra que o contrário disto, como definiu Karl Marx, é alienação, quando não nos reconhecemos naquilo que fazemos. E conclui o texto: “... quando penso em um trabalho de qualidade de vida... estou pensando em um trabalho que não seja alienado.... Por que um bombeiro, que não ganha muito e trabalha de uma maneira contínua em algo que a maioria de nós não gostaria de fazer, volta para casa cansado, mas de cabeça erguida? Por causa do sentido que ele vê no que faz. Por causa da obra honesta, a serviço do outro, independentemente do status desse outro, da origem social, da etnia, da escolaridade etc. Aí, não é suplício”.

Muitas pessoas adiam seus projetos e sonhos em função do trabalho; algumas conseguem seguir em frente, outras – que não conseguem fugir do suplício – acabam por adoecer. Creio que o texto do Cortella nos permite algumas reflexões sobre o tema.

Quanto ao Antonio Prata, creio que ele encontrou a justa medida entre o ócio e o negócio. Faz o que gosta e gosta do que faz!