Ofensa, um fracasso pessoal.

06/04/2017 23:59

 

O historiador Leandro Karnal escreveu uma obra dedicada à “fofoca”. Nas páginas de “A detração: breve ensaio sobre o maldizer” (Ed. Unisinos),  ele  fala sobre  a fascinação humana por falar mal dos outros.  Enumera desde os insultos literários – como os trocados por Winston Churchill e Bernard Shaw – à fofoca mais cruel; desde a Bíblia até as redes sociais, passando pelas campanhas políticas aos linchamentos virtuais para mostrar que a detração existe em várias formas.

Diz ele que a maledicência é política, pessoal, cultural, universal, está acima da luta de classes. Que é apartidária e não faz distinção de credos. A detração é o ar que a Humanidade respira nas sacristias e nos prostíbulos, no metrô, no ônibus, nas salas confortáveis de espera e nas reuniões ministeriais.

É psicanalítica.

Com a internet e o anonimato possível, a fofoca ficou mais segura e mais forte e que ela ocupa a maior parte do fluxo da internet e – bem humorado –, ele brinca: “sem ela quase não haveria troca de mensagens nos celulares”.

Em um vídeo do canal Youtube, ainda do Karnal, intitulado “Quem pode me irritar, quem pode me ofender”,  ele traz algumas inquietações. Citando o imperador Marco Aurélio, que no seu livro “Meditações”, nos dá a oportunidade de fazer a seguinte reflexão: A quem pertence a tua paz? De quem é a tua tranquilidade de espírito? É do outro ou é tua? Porque se for tua ninguém te tira; mas se for do outro ele te tira a todo instante. Quem pode me ofender? Só um tipo de pessoa: aquela que diz uma coisa com a qual eu concordo! Então quem está se ofendendo sou eu”.

E remete-se aos budistas: “a ofensa é uma brasa que você atira na pessoa pra queimá-la. A ofensa é um fogo na mão, que você quer queimar a pessoa o máximo possível. E talvez você consiga, mas em cem por cento dos casos você queima a sua própria mão. A ofensa talvez atinja a pessoa, mas em cem por cento dos casos ela queima sua mão. É você o primeiro a embarcar nessa energia da ofensa”.

E continua nos provocando reflexões: tenho que decidir quem pode me ofender. Se alguém me chama de qualquer coisa, eu tenho que pensar comparativamente. Quem pode me ofender? Unicamente a quem eu der este poder.

Por isso que a ofensa é um fracasso pessoal! Se me abalei por completo, a ofensa é uma característica que eu permiti que o outro me ofendesse.

Os estoicos orientam que não precisamos nos alterar diante das coisas que sejam desimportantes.  Há poucas brigas muito importantes na vida. Elas existem, mas são muito poucas. As outras são todas irrelevantes. Portanto, é uma decisão de sabedoria conseguir eleger o que é importante.

 

A provocação filosófica de Leandro Karnal me ajudou refletir sobre as experiências dos últimos dias e o meu final de semana foi dedicado à leitura do bom e velho Freud para compreender os recalques daqueles que tentam nos chamuscar com as brasas da injuria e da maledicência.

No mais, pra quem não sabe nem o que significa isso, só posso então deixar a citação da "filosofa contemporânea" Valesca Popozuda: "beijinho no ombro"!