O Início da Libertação. Mais que um sonho.
A quarta-feira amanhecera cética. Com razão, na medida em que o domingo fora triste e preocupante.
Levantei-me, procedi à higiene pessoal. Aprontei-me e fui para o colégio. Assisti às aulas. O tempo – sempre ele – transcorria num misto de pressa e lentidão. Momentos de agonizante espera. Sim, de mais de vinte anos.
Retornei da escola, almocei e fui para o trabalho. Em silencio. Apreensivo. Cético. Todavia, no fundo, confiante.
Cumpri a alienante rotina de labor.
Retornei para casa.
Tomei banho e jantei.
Passava das oito. Havia uma pequena peregrinação: esperar o final do capítulo da maldita novela que minha querida acompanhava.
Acabou. Vinte e uma horas do dia treze de Outubro de mil, novecentos e setenta e sete.
Começará.
Não jogará o Palhinha. Entrará Luciano em seu lugar. Esse um meia clássico. Pernambucano da cidade de Pesqueira. Bem cool para ser um jogador de futebol. Porém, craque.
Tobias, Zé Maria, Moises, Ademir Caipira e Wladimir. Russo, Basílio, Luciano, Vaguinho, Geraldão e Romeu. Esse era nosso esquadrão. O técnico era o mítico Osvaldo Brandão.
Verdade: o time da Ponte Preta era melhor, com mais técnica e conjunto. O Corinthians era garra e vontade.
Vencemos a primeira partida, numa quarta-feira. Perdemos no Domingo, de virada. Jogávamos pelo empate. Até aí... Com o Corinthians é fé, torcer.
Resolvemos não ir ao estádio. Queríamos evitar a “zica”. Entendemos mais adequado acompanhar pela televisão.
Eu, meus irmãos Zé Roberto, Zé Alexandre, Matheus, nossos pais e minha Tia-Madrinha.
Passava dos trinta e seis minutos do segundo tempo. Falta na lateral direita do ataque corintiano. Zé Maria ergue a bola na área. Vaguinho corre e chuta. A bola bate no travessão. (Carlos, então goleiro da Ponte operava milagres àquela altura). No rebote, Vladimir cabeceia. Oscar desvia. Novo rebote, Basílio chega e toca com pé direito para o fundo do gol.
Êxtase. GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLL!
Lembro-me da narração do grande Osmar Santos, o “Pai da Matéria”.
Sofrimento até o final.
O torturador Vanderlei Boschilia apitou o fim do jogo.
Ganhamos. Somos campeões.
O pesadelo da fila acabou.
Brindamos com champanhe. Abraçamos-nos e choramos.
Fomos para a rua. A Avenida Paulista. Festa na Favela. É nois. Curintiá campeão.
Arrastamos uma imensa bandeira. Nosso pavilhão. Símbolo e manto sagrados.
Retornamos de madrugada. Leves e felizes.
Pela primeira vez, aos dezessete anos, dormi campeão.
Acabou a zoação.
Agora é nóis.
Na manhã seguinte não houve aula. Muitos comércios não funcionaram em São Paulo. Acreditem. Razão: os funcionários não foram trabalhar. Nas ruas do centro da cidade havia coros que entoavam: “- Ão, ao, ao, Corinthians campeão. Pau no c... do meu patrão!”.
Passados trinta e nove anos um título de campeão paulista parece pouco, em face da perda da relevância. No entanto, hoje, a simbologia do momento, a queda do estigma, pavimentou uma rica estrada de conquistas e títulos. Crescemos. Somos os maiores em torcida. Campeões Mundiais, Continental e Nacional.
Basílio, “pé de anjo”, te amamos. Eternamente em nossos corações.
É nóis Timão.
Corinthians minha vida. Corinthians minha história. Corinthians meu amor.