O Começo do Fim ou o Fim do Começo.

27/07/2017 10:36

Já senti falta do trabalho. Confesso. Porém, isso é passado.

Recordo-me que as férias eram ansiosamente aguardadas, todavia, no seu transcorrer, era acometido de saudades do trabalho, do cotidiano das salas de aula. Passou.

A razão disso? A própria profissão. Seu exercício insalubre e desestimulante; a falta de perspectivas; a perene expectativa de notícias e ações ruins que virão e vem. A rotina do trabalho é cada vez mais alienante e sem sentido.

Ontem a Folha de São Paulo publicou reportagem acerca da quantidade grande de ausências dos professores durante o ano letivo. O motivo é óbvio: saúde fragilizada, em face do desgaste cotidiano. Salas superlotadas, péssimos salários, ausências plenas de condições básicas para o exercício da profissão. A meu ver, a certeza de que não haverá melhora.

Educação é somente proselitismo. Peça de retórica política.

O poder público – Estadual, Municipal e Federal – joga fora fortunas em publicidade mentirosa e não aponta minimamente para o cerne do problema: os profissionais da Educação adoecem, enlouquecem...

Os episódios de problemas neurológicos, psicológicos, fisiológicos são uma constante.

O sonho da aposentadoria funciona apenas como um alento: a esperança de sobreviver alguns anos de forma lúcida, com alguma dignidade, longe das Escolas.

Estou há poucos dias do retorno ao trabalho. Não tenho nenhuma saudade. Lamento que o período de férias e recesso esteja no fim. Por mim não retornaria. Estou saturado.

A própria Educação- seu exercício- é a responsável, na medida em que é tratada da forma que expus. Por gente incapaz, descompromissada e mal-intencionada.

O Estado mais rico da União paga salários piores que o Piauí, talvez o mais pobre!

Alguns dirão: “- A rede do Piauí é muito menor que a de São Paulo”. Verdade. No entanto, a arrecadação de São Paulo é muito, muito maior que a do Piauí!

Não se paga por que não se quer.

Tenho convicção de que, aquilo que mais adoece, enlouquece e mata, é a falta de futuro. É a certeza de que não haverá saltos de qualidade.

O “daqui há pouco” é muito sombrio, cinza.

Hoje – 25.07.2017 – li na mesma Folha de São Paulo que o prefeito da capital implementará nas Escolas Municipais o ensino de “Programação e Ética na internet”.
Curioso: há poucos dias, também li na Folha que os estudantes do Ensino Fundamental do Município de São Paulo preferem computador, “navegar na internet” ao invés de leitura.

Conclusão: o playboy-prefeito me sai com essa!

Insisto: não posso ser contra a tecnologia, seu uso, sua apropriação para produção de conhecimento. É óbvio. Contudo, há que se ressaltar: a formação humanística, o preparo intelectual, o contato com os livros, a coragem intelectual, a disposição para aprender, a disciplina nos estudos, são essenciais.

Apenas operar máquinas, ainda que sofisticadas, não é suficiente. É a continuação da alienação, com um viés mais “cult”, “chique”. Mas, é a continuidade do processo de emburrecimento.

É trocar seis por meia dúzia!

No âmbito federal a “reforma do Ensino Médio! ” tem consumido montanhas de dinheiro em publicidade. Na prática, não produzirá efeitos positivos. Sei, nem o querem. Na medida em que o cerne do problema não é sequer tocado: as péssimas condições de trabalho; a falta de atrativo no exercício da profissão de professor. A inexistência de uma carreira. É apenas um claustro!

Quanto a tal reforma, volto a dizer: não se acaba com a fome, matando os famintos. É necessário agir no nexo causal, naquilo que provoca a fome. Fora isso, é apenas maquiagem de terceira categoria.

Também sei: não se pretende nada diferente disso.

E a Educação Pública Estadual em São Paulo como se pronunciou em relação a matéria?

Não se pronunciou.

A última notícia que tive de seu secretário foi que se evadiu de uma conversa com público, sindicatos, especialistas e sociedade civil.

“ Sou o início, o fim e o meio”. (Raul Seixas).