Moonlight, entre o sonho e a realidade.

03/03/2017 01:31

 

Em pleno domingo, no país do carnaval, resolvi assistir à cerimônia de premiação do Oscar para fugir da programação televisiva recheada de noticias e “flashs” da folia momesca.

Enquanto os atores desfilavam pelo tapete vermelho, acionei o controle remoto, afinal, já passei da fase “voyer”, não interessa mais saber quem veste o que na tal festa. Em meio a uma programação e outra aguardei o início da cerimônia.

Entre a animada entrada de Justin Timberlake cantando  single que concorria a melhor canção original e o irônico discurso de abertura da cerimônia feito pelo apresentador Jimmy Kimmel, cheguei a acreditar que Hollywood resolvera aderir à onda de protestos contra a política reacionária de Donald Trump. Afinal, Kimmel, que começou agradecendo aos 245 países que agora odiavam os norte americanos, brincou com a atriz francesa Isabelle Huppert, zombou da polêmica “twittada” do presidente aprendiz contra a “superestimada” atriz Meryl Streep – que, segundo o apresentador, passou no teste do tempo com seus papéis sem inspiração e trabalhos medíocres inspirando a plateia a apaludi-la de pé – terminou seu discurso alfinetando que seria comentado pelo presidente em sua rede social favorita – o Twitter.

Apesar do sono, lembrei-me do ano anterior.  A controversa hashtag muito branca na mesma rede social:  #OscarSoWhite. Entre política e milhões, o que esperar dessa cerimônia?  Entre a reflexão e o tédio adormeci.

O sono trouxe um esquisito sonho: sob uma enorme muralha patrulhada por cowboys armados um branco grandalhão era arrastado pelo exército trumpeano – era um amigo brasileiro que morou uns tempos lá em Miami. Ele contou, certa feita, o quanto foi discriminado pelos seus vizinhos americanos que nem ao menos respondiam aos seus “good mornings”!

Acreditando ainda estar sonhando, vejo na tela da TV Bonnie e Clyde – um tanto mais velhos e em roupas de gala – anunciando o filme vencedor do Oscar: La La Land; minutos depois, o palco é cercado por uma horda aturdida também em roupas de gala. Um deles inesperadamente diz que houve um erro, que Moonlight era o vencedor reiterando que aquilo não era uma piada. Retira, então, o envelope da mão de um atordoado ex bandido ( o tal Bonnie Parker, que agora está muito mais para Warren Beatty)  e mostra ao público.

Confusão na tela e torpor do sonho. Agora, mais confusa ainda, vejo um monte de negros no palco do Dolby Theatre receber o prêmio maior do cinema americano. Será que o onírico inexplicável faz acreditar que o  melhor filme do primeiro ano do Trump é dirigido e estrelado por negros, trata da história de um homossexual pobre, filho de uma dependente de crack e que adota um traficante como figura paterna? (Minhas escusas por simplificar tanto assim, mas creio que é o efeito bordoada do insólito acontecimento.)

Levanto. Será que isso é real ou efeito do sonho?

E depois de um bom “gole d’água” lembro da fala do tal amigo que morou lá nos EUA – antes da eleição – e da praga que ele rogou ao deixar o sonho e o solo americano: “vocês merecem que o Trump seja eleito presidente”!

A única explicação plausível que encontro: acho que a praga rogada por meu amigo  pegou mesmo!