Minha cidade

19/05/2017 00:53

Nesses tempos de desilusão, descrença e delação de nosso triste trópico “desutópico”, algumas coisas ainda me fazem feliz: a chuva que embala esse texto (e que sempre traz a maravilha inenarrável de reviver o que é sentir o cheiro da terra molhada), a leitura de um bom livro (que nesse caso é a biografia padroeira das ovelhas negras, Santa Rita de Sampa, presente da minha tia pelo dia das mães) e o sossego do meu lar.

E sem ter inspiração para poder escrever sobre o aniversário de Fernandópolis e parabenizar a cidade em que nasci resolvi brincar e poetizar.  A vida fica mais amena com poema!

Minha cidade

Fui embora menina…
Voltava sempre
creio que nunca te deixei.

 

Levava sempre comigo
o cheiro da terra molhada
que vinha no vento
assim que começa a chuva.

 

A exuberância das mangueiras,

o sabor da fruta “panhada” no pé.

O meu galho da goiabeira

e a alegria do quintal da casa da avó.

 

Ruas planas e longas,

e distâncias vencidas com aventuras.

E quando caia a noitinha

conversas na calçada.

 

Mais tarde, o céu oferecia

a mais linda das memórias:

o céu pontilhado de estrelas.

 

Eu, que nunca acostumei com a grandeza,

acreditei que gostava de frio, de pressa e  multidão.

De tanto tempo distante guardava essa ilusão.

Que nada!

Descobri que prefiro gente, preguiça e calor.

 

E a “feia fumaça” não conseguiu apagar da lembrança

o brilho das constelações da infância

e então voltei, agora pra ficar

porque descobri que aqui é meu lugar.