Minha cidade
Nesses tempos de desilusão, descrença e delação de nosso triste trópico “desutópico”, algumas coisas ainda me fazem feliz: a chuva que embala esse texto (e que sempre traz a maravilha inenarrável de reviver o que é sentir o cheiro da terra molhada), a leitura de um bom livro (que nesse caso é a biografia padroeira das ovelhas negras, Santa Rita de Sampa, presente da minha tia pelo dia das mães) e o sossego do meu lar.
E sem ter inspiração para poder escrever sobre o aniversário de Fernandópolis e parabenizar a cidade em que nasci resolvi brincar e poetizar. A vida fica mais amena com poema!
Minha cidade
Fui embora menina…
Voltava sempre
creio que nunca te deixei.
Levava sempre comigo
o cheiro da terra molhada
que vinha no vento
assim que começa a chuva.
A exuberância das mangueiras,
o sabor da fruta “panhada” no pé.
O meu galho da goiabeira
e a alegria do quintal da casa da avó.
Ruas planas e longas,
e distâncias vencidas com aventuras.
E quando caia a noitinha
conversas na calçada.
Mais tarde, o céu oferecia
a mais linda das memórias:
o céu pontilhado de estrelas.
Eu, que nunca acostumei com a grandeza,
acreditei que gostava de frio, de pressa e multidão.
De tanto tempo distante guardava essa ilusão.
Que nada!
Descobri que prefiro gente, preguiça e calor.
E a “feia fumaça” não conseguiu apagar da lembrança
o brilho das constelações da infância
e então voltei, agora pra ficar
porque descobri que aqui é meu lugar.