Fonte da Juventude

19/05/2016 21:12

 

Certo dia, ao assistir um telejornal da noite, vi a matéria sobre o protesto da equipe do filme Aquarius, do brasileiro Kléber Mendonça, que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Não pensem que vou me ater à exibição dos atores do longa metragem que expuseram cartazes com frases escritas em línguas diversas que diziam que o processo de impeachment no Brasil era um "golpe de estado" – isso já não me causa espanto, parece coisa banal. O que me assombrou foi a feição da atriz Sônia Braga.

Sem me refazer do susto acionei o controle procurando algo mais ameno. Outro baque: no canal escolhido passava um “reality show” de casais famosos (?) – Power Couple Brasil. Um festival de sandices e futilidades com personagens que são caricaturas deles próprios e quase todos com aquela mesma feição da protestadeira Sônia Braga.

O incomodo já vem de algum tempo, basta ver a maioria dos atores – globais, recordistas, hollywoodianos, seja lá de onde –, passando pelas celebridades instantâneas, políticos e afins com seus rostos repletos dessa substância que lhes tira os vincos e também as expressões;  então  me pergunto: será que as rugas estão fora de moda?

A juventude, eternamente cobiçada, é agora um produto transformado em mercadoria. Pelo bem do consumismo é inútil dizer que essa busca quando se torna insana acaba por ser patética.

Segundo a dialética, começamos a envelhecer assim que nascemos. E para tentar entender melhor a questão fui beber na fonte da sagrada água da sabedoria.

Simone de Beauvoir ao escrever sobre a velhice descreve o seguinte diálogo: “Céfalo convidou Sócrates para visitá-lo, desculpando-se por não ir procurá-lo, pelo fato de estar velho e ser difícil sair de casa. Queria conversar com o amigo, pois para Céfalo: 'quanto mais amortecidos ficam os prazeres do corpo, mais crescem o deleite e o prazer da conversação'. Sócrates aceitou o convite, respondendo que lhe agradava muito conversar com pessoas de mais idade, que já tinham percorrido um caminho que ele teria que percorrer. Assim, deu-se o início da conversa, quando Sócrates perguntou a Céfalo, como ele, já velho, sentia-se ao atingir a fase que os poetas chamavam de 'o limiar da velhice'. Céfalo respondeu que muito bem, pois a triste cantilena, evocada por muitos, responsabilizando a velhice por todos os males, para ele era decorrente da própria vida e não da idade avançada”.

O filosofo romano (Marco Túlio) Cícero, na obra Saber Envelhecer  diz: “Senti tal prazer em escrever que esqueci os inconvenientes dessa idade; mais ainda, a velhice me pareceu repetidamente doce e harmoniosa./Todos os homens desejam avançar a velhice, mas, ao ficarem velhos se lamentam. Eis aí a consequência da estupidez./ Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade./ Acaso os jovens deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a juventude? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice, são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.”

 

Depois de tanta leitura e outro tanto de reflexão, fica óbvio entender que envelhecer é inexorável e que ficar velho é opcional, mas a conclusão disso tudo é que bom humor e Filosofia são melhores que botox!