Elvis vive.
O último dia dezesseis marcou quarenta anos da morte de Elvis Presley.
Curioso: não li ou ouvi menções ao fato. Talvez estejam guardando para a próxima década. Todavia, há que se reconhecer: alguém que fora satanizado; execrado pelos movimentos sensuais da dança, considerados lascivos pelos brancos babacas, facistóides, proto-Trumps da escrota “América”, ganhou até selo comemorativo do negro Obama. É uma conquista.
O jovem de Tupelo, texano e motorista de caminhão, custeou o primeiro single na lendária Sun Records, a fim de cantar uma homenagem à própria mãe. Sim, a mãe. Edipiano estereotipado, não assumido, com o sucesso ergueu em Memphis uma mansão “Graceland”, comprou um Cadillac cor-de-rosa, para a mamãe. Sua morte desnorteou a si e a sua carreira. Afora o fato de ter se ligado ao idiota Coronel Parker, empresário que comandou sua vida e trabalho com mão de ferro. Tirou-lhe a revolta, o dionisíaco, a negritude, transformando-o num braquinho bem-comportado, pseudo galã de cinema e militar “patriota”. A cara de um republicano trompista. Ah! Que nojo!
Elvis começou de forma surpreendente: um branco com voz negra. Country music e Blues dançavam, dionisiacamente, harmônicos e unidos. Céu e inferno. Música.
Não me aterei aqui acerca da paternidade do rock and roll. São muitos pais e mães. É feliz assim.
Explodiu como voz de uma nova geração, “On The Road”, que se recusara a reproduzir o sonho americano de vossos pais. Voz de alguém que recusou a cantar a velha “América”, velha que ronca e peida; arrota balelas em nome de supostos ideais, ideologias escrotas e mentirosas.
"Jailhouse Rock", "It's Now or Never", “Love me Tender”, "You Don't Have to Say You Love Me", "My Boy" e "Moody Blue", bradava o novo vingador da juventude inquieta e rebelde.
Logo foi “coptado pelo Sistema”. Entrou para o Exército. Virou galã.
Perdeu a mãe. Perdeu o chão.
Nunca se apresentou fora dos Estados Unidos.
Em 1968, depois de gravar a última porcaria em Hollywood, juntou-se aos seus músicos em Los Angeles para uma apresentação.
O tempo passara: Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Led Zeppelin, o ex-galã perdera-se? Foi esquecido?
Aos trinta e três anos, vestido inteiramente de couro, empunhando uma bela Gibson 375, semiacústica, abre o set com um cortante Blues. Não havia dúvida: O Rei estava vivo e forte. Mantinha a beleza e a sensualidade da voz. O carisma intocável. Continuava o cara.
Confira essa apresentação no Youtube. Vale muito.
Mal sabíamos: dali nove anos...O fim.
Depois desse show – literalmente -, começou a engordar. Compulsivo por comida e viciado em comprimidos, transformou-se num simulacro de si. Balofo, conservando a bela voz, fez uma patética apresentação, se não me engano no Havaí. Com roupas esdrúxulas e cafonas. Entoou todo seu belo e rico repertório. A voz e a lenda continuaram intactas.
Morreu, possivelmente, como viveu: de maneira tediosa e melancólica.
Restou o mito.
Love Me Tender!
Descanse em paz Lenda!