1968. Cinquenta anos depois.
O tempo é uma preocupação constante em minhas reflexões cotidianas. Não só em face do avanço da idade, da vivência no último ciclo, a proximidade da morte – espero ao menos três décadas e meia a mais -, o crescimento dos filhos, sua entrada na idade adulta, a aposentadoria...
Todavia, o tempo, por si só, é um permanente objeto de exercício de pensamento, na medida em que baliza erros e acertos, amarguras e alegrias.
Nesse final de semana, me pus a pensar no jubileu de ouro do ano em epígrafe. Retomei a deliciosa leitura da obra do jornalista Zuenir Ventura: “1968, o Ano que Não Terminou”. A obra começa no réveillon da passagem de 1967 a 1968, noite na qual, o autor afirmava sentir o porvir. O livro centra-se, basicamente, na História do Brasil. Porém, naquele ano, o mundo “virou de ponta cabeça”.
Vale lembrar: maio, as passeatas e barricadas em Paris, num movimento cujo início era uma simples reivindicação nos alojamentos da Universidade de Paris VII que tomou proporções planetárias.
Foi o ano do assassinato de Martin Luther King. O acirramento da luta pela conquista dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Intensificaram-se os protestos contra a absurda intervenção ianque no Vietnã.
A “Revolução Cultural” de Mao Tse Tung ia a plenos pulmões.
Foi o intermezzo entre os Festivais de Monterrey e Woodstock.
Os Beatles lançaram o “álbum branco”.
Veio à luz o fundamental disco “Panis et Circenses”, obra que lança o tropicalismo.
O embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, foi sequestrado.
Houve a passeata dos cem mil, na Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro, clamando por liberdade, contra a ditadura. Protesto iniciado pela morte do estudante Edson Luis, no restaurante universitário Calabouço.
Foi ano da “Primavera de Praga”. Os tanques soviéticos invadiram a Checoslováquia; depuseram Václav Ravel; implantaram a ditadura “stalinista”.
O Vietnã continuava a matar inocentes e ianques aos montes. Próprio da ditadura republicana dos Estados Unidos.
“Flower, Power”, “Peace and Love”, “A Imaginação no Poder”, “Faça amor, não faça a guerra”, “É Proibido proibir”. Eram lemas e utopias daquele ano.
Os “Hells Angels” entregavam pães e flores. Vieram a barbarizar e a matar somente em 1971, em Altamont.
O filósofo Herbert Marcuse lançara “Eros e Civilização”, uma tentativa de conciliar o marxismo com Freud.
O budismo Zen de Allan Watts estava em voga.
Treze de dezembro: publicação do Ato Institucional número 5. A ditadura começa a mostrar a verdadeira face. “O couro ia comer” para valer.
Fim das utopias?
The Drems is over!
Revisitado, aquele ano mantém sua “aura”, seu frescor, a riqueza do sonho.
É triste: não sonhamos mais!
Não há utopias.
“Nossos heróis morreram de overdose”.
“Meus inimigos estão no poder...”.
Até quando sonharei acordado?