1968. Cinquenta anos depois.

22/08/2018 00:00

O tempo é uma preocupação constante em minhas reflexões cotidianas. Não só em face do avanço da idade, da vivência no último ciclo, a proximidade da morte – espero ao menos três décadas e meia a mais -, o crescimento dos filhos, sua entrada na idade adulta, a aposentadoria...

Todavia, o tempo, por si só, é um permanente objeto de exercício de pensamento, na medida em que baliza erros e acertos, amarguras e alegrias.

Nesse final de semana, me pus a pensar no jubileu de ouro do ano em epígrafe. Retomei a deliciosa leitura da obra do jornalista Zuenir Ventura: “1968, o Ano que Não Terminou”. A obra começa no réveillon da passagem de 1967 a 1968, noite na qual, o autor afirmava sentir o porvir. O livro centra-se, basicamente, na História do Brasil. Porém, naquele ano, o mundo “virou de ponta cabeça”.

Vale lembrar: maio, as passeatas e barricadas em Paris, num movimento cujo início era uma simples reivindicação nos alojamentos da Universidade de Paris VII que tomou proporções planetárias.

Foi o ano do assassinato de Martin Luther King. O acirramento da luta pela conquista dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.

Intensificaram-se os protestos contra a absurda intervenção ianque no Vietnã.

A “Revolução Cultural” de Mao Tse Tung ia a plenos pulmões.

Foi o intermezzo entre os Festivais de Monterrey e Woodstock.

Os Beatles lançaram o “álbum branco”.

Veio à luz o fundamental disco “Panis et Circenses”, obra que lança o tropicalismo.

O embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, foi sequestrado.

Houve a passeata dos cem mil, na Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro, clamando por liberdade, contra a ditadura. Protesto iniciado pela morte do estudante Edson Luis, no restaurante universitário Calabouço.

Foi ano da “Primavera de Praga”. Os tanques soviéticos invadiram a Checoslováquia; depuseram Václav Ravel; implantaram a ditadura “stalinista”.

O Vietnã continuava a matar inocentes e ianques aos montes. Próprio da ditadura republicana dos Estados Unidos.

“Flower, Power”, “Peace and Love”, “A Imaginação no Poder”, “Faça amor, não faça a guerra”, “É Proibido proibir”. Eram lemas e utopias daquele ano.

Os “Hells Angels” entregavam pães e flores. Vieram a barbarizar e a matar somente em 1971, em Altamont.

O filósofo Herbert Marcuse lançara “Eros e Civilização”, uma tentativa de conciliar o marxismo com Freud.

O budismo Zen de Allan Watts estava em voga.

Treze de dezembro: publicação do Ato Institucional número 5. A ditadura começa a mostrar a verdadeira face. “O couro ia comer” para valer.

Fim das utopias?

The Drems is over!

Revisitado, aquele ano mantém sua “aura”, seu frescor, a riqueza do sonho.

É triste: não sonhamos mais!

Não há utopias.

“Nossos heróis morreram de overdose”.

“Meus inimigos estão no poder...”.

Até quando sonharei acordado?