A Volta Dos Que Não Foram
Como de hábito, telefonei para meu irmão Zé Roberto. Sem razão maior, apenas para aplacar as saudades. Sim uso o telefone. Não sou afeito ao “Whatzap” (Nem sei se é a grafia correta), Facebook e congêneres. Gosto de falar e ouvir simultaneamente. Sou de “outros tempos”. Outros. Cresci em meio ao terror, ao arbítrio e a vigilância da ditadura militar. Era tudo cerceado.
Para meu espanto, enquanto conversava com meu irmão, disse-me que o José Trajano, bandeira do jornalismo esportivo, fora demitido da ESPN BRASIL. Um detalhe: ajudou a fundá-la.
Fui inteirar-me do tema: descobri que ao retornar das férias, fora chamado pela direção do canal e sem mais delongas, demitido. Sob a alegação de “contenção de gastos”.
O próprio jornalista afirmou que essa foi uma desculpa estapafúrdia e canalha. Mentira! A verdadeira razão foi uma pressão externa e interna. A saber: as críticas do jornalista ao golpe perpetrado contra a presidente Dilma Rousseff. Posicionou-se publicamente, durante programas esportivos. Além disso, estivera em ato de apoio à reeleição do prefeito Fernando Haddad.
Há cerca de um mês, José Trajano concedeu uma longa entrevista ao site UOL, onde se declarou brizolista e darcysista. Mas, acima de tudo, crítico ferrenho e inimigo dessa escória que usurpou o poder, para praticar os meus delitos que acusa seus opositores.
Faz alguns meses o jornalista Sidney Rezende foi sumariamente demitido da Globonews, não verdade seu contrato não foi renovado. O motivo: por ter afirmado que “Não se devia demonizar o governo Dilma”.
Ao mesmo tempo Temer apresenta sua “nova” (?) proposta para o Ensino Médio. O bebê-diabo veio, democraticamente, em forma de medida provisória. Isso mesmo. Sem debate ou esclarecimentos. Tudo nebuloso.
Há uma crise no Ensino Médio. É fato. Necessita mudanças e melhoras. Muitas. Todavia, o que se propõe, me parece é desmantelá-lo ainda mais.
Explico-me: é como se fossemos acabar com a fome por meio do genocídio dos famintos. Todos mortos, não há mais fome. Ou seja, o caminho para “melhorar o Ensino Médio” é o retrocesso. Tornar opcionais as disciplinas de Filosofia, Sociologia, Arte e Educação Física. Quer dizer, permanecem obrigatórias apenas Português, Matemática e Inglês. O resto é resto.
Outra aberração: permitir ao educando optar pela grade. Há maturidade suficiente, critérios técnicos para tanto? No geral não existe. Não estou a menosprezar a capacidade dos jovens. Apenas afirmo isso do alto de meus mais de trinta e dois anos de experiência na sala de aula.
Em outras palavras, estamos às voltas com a velha 5.692/71 antiga Lei de Diretrizes e Bases da Educação gestada por Jarbas Passarinho então Ministro da Educação durante o pior período da ditadura, do General Médici. No momento que o mundo clama por humanização, o Brasil se “tecnicisa”. Além disso, sabemos que as urgentes modificações na Educação passam por tornar a carreira do magistério atrativa. Quer dizer, salário exequível para atrair grandes profissionais e não expulsá-los. Qualidade e quantidade é uma questão dialética. Todavia, uma necessariamente não implica na outra.
O que está por trás desse “projeto”, a mim fica evidente, é o propósito do cerceamento, da proibição, da vigilância e punição. Não se trata de busca de melhora, na medida em que não se mexe no problema, não se ataca o nexo causal do problema.
Acrescente-se a isso a nefasta proposta de um imbecil que fala em “Escola Sem Partido”, o que nada mais é do que proibir professores de se expressarem, de opinarem e externarem pontos de vista. Só vale o oficial. Lembra-me a Educação Nazifascista.
O próprio José Trajano declarou: “O macarthismo está no ar”.
Não só no ar. Está em todas as partes e mentes desses golpistas.
Ao deixar Brasília, o General Figueiredo declarou: “Só eu sai?”.
Todos esses fatos, nitidamente, não são isolados. Continuamos a viver o roteiro barato de um filme de terror já visto. Ainda em cartaz. Agora é o momento da comédia. Solicitado e referendado pelos batedores de panela.