A morte, nossa velha companheira.

15/05/2018 10:33

Em texto publico há pouco, comentava a expectativa da rápida passagem do mês de abril, em face de várias perdas no meio cinematográfico. Continuam. Ontem (14.05.2018) foi noticiado o falecimento do cineasta Roberto Farias.

Em que pese construir uma carreira irregular- filmou uma trilogia de Roberto Carlos, trapalhões, documentário sobre Emerson Fittipaldi-, foi o diretor do fundamental “Assalto ao Trem Pagador”, marco do Cinema Novo e responsável pela película “Pra Frente Brasil”, obra na qual, pela primeira vez, apresentava sem metáforas e tintas amenas a ditadura militar no Brasil e sua prática de torturas.

Além disso foi diretor geral da Embrafilme e produtor de obras como “Toda Nudez será castigada” de Arnaldo Jabor, dentre outros.

Meus sentimentos à sua família.

Ditadura que alguns insistem em escamotear, ignorar ou minimizar. Numa época de polarizações doentias e intolerantes.

Intolerantes a ponto de produzirem rupturas em convívios e amizades.

Intolerância que cega. A negação da “áurea mediocridade”, isto é, o equilíbrio perfeito entre a falta e o excesso, propalados pelo filósofo Aristóteles.

A morte de Roberto Farias ajuda a enterrar mais fundo uma época, dentro da qual, havia um desejo de debate e elucidação, a partir do qual, dialetizando ideias, chegava-se a luz.

Hoje, ao contrário, vivemos à época das trevas, das rupturas definitivas, sem “teogonia”, sem “ideal, nem esperança”, sem ao menos o “sorriso do dono da tabacaria”.

Tristes tempos.

Triste época.

A morte deveria nos fazer refletir. Não faz. Ela é apenas o fim.