A Irrealidade do Real ou a realidade Virtual ou Nenhuma Nem Outra.

10/08/2016 11:09

Minha mulher, Jacqueline, publicou há algum tempo uma bela coluna na qual produzia um paralelo entre Huxley e Orwell, no sentido de estabelecer o quanto ambos acertaram em suas visões do futuro. Todavia, salientava que com base na elucidação de um filósofo, cujo nome não me recordo, o autor de “Admirável Mundo Novo” foi mais assertivo, na medida em que apontava que o domínio de corações e mentes dar-se-ia pela diversão.

Com base nisso, me pus a pensar: nesse instante vivemos dois fenômenos díspares, porém, confluentes: As Olimpíadas no Rio de Janeiro e a “caça aos Pokémons”.

O primeiro, evento de grande monta, dispendiosamente indecente em termos de gastos públicos, bandalheiras e corrupção, afora o espetáculo da incompetência: evento a iniciar e as obras incompletas. A cara do Brasil real.

Sexta-feira passada houve a “cerimônia de abertura”. Confesso, assisti parte. Linda, pois, concebida por talentos como Fernando Meireles, Daniela Thomas e Andrucha Waddington. Embora, em minha opinião, longa. Patética ao final, com a turba alienada gritando a maldita marchinha nazifascista “- Sou brasileiro...”. Causa náuseas.

Passou. Começaram os jogos. A cara do Brasil se mostra novamente: índices pífios. Derrotas. Comparado a países que encaram a sério educação, cultura e esporte, é vergonhoso. Sem nacionalismo barato, não aceito a desculpa: “- Estar nas Olimpíadas é um premio”. Bobagem. Conversa de derrotado. Não responsabilizo os atletas. São vítimas de calhordas sem escrúpulos, os quais se enriquecem e se promovem à custa dessa gente humilde e sofrida na maioria dos casos. Que acabam por comover os brasileiros.

Não importa. Perder ou ganhar é o de menos. Conta o fato de a maioria das pessoas conectar-se aos jogos e desligar-se da realidade. Produzir espasmos ufanistas e esquecer o Brasil real.

Enquanto isso... O Senado começou a fechar o caixão da presidenta eleita. A corrupção e a impunidade continuam.

Protagonistas diretos e indiretos da corrupção e da construção do Brasil real são os mesmos que a condenam.

Porém, torçamos.

Simultaneamente, uma febre acometeu os mesmos corações e mentes: Esqueça a vida. Casse Pokémons! É inacreditavelmente patético constatar que jovens e adultos deixam seus afazeres para sair em busca da caça virtual.

Pior é ouvir justificativas positivas da atitude: “- As pessoas estão saindo de casa”. Disseram-me que até depressão foi curada a base da tal caçada.

Prefiro ignorar esses argumentos.

Volto-me ao texto da minha mulher e a Huxley.

Estão corretíssimos. Um pão e circo pós-moderno. Que chique!