A História se repete

17/06/2018 22:57

 

Semana retrasada buscava no “Youtube” uma palestra proferida pelo Professor Livre-Docente da UNICAMP, Osvaldo Giacóia Junior, acerca de “Nietzsche e a crise do século XX”.

Todos que já acessaram esse canal sabem que várias janelas ao lado se abrem com outras temáticas. Ao final, me chamou a atenção um programa produzido pela BBC britânica, o qual abordava outro filósofo germânico: Martin Heidegger. O roteiro discorria acerca de suas ascensões pessoal e profissional, em parte pela genialidade e por outro lado pela falta de caráter, algo contraditório. Falta de caráter e inteligência, a meu ver, não combinam.

Por méritos pessoais atingiu a estatura de grande filósofo, sobretudo com a publicação da obra “Ser e Tempo”. Todavia, logo após usufruir o merecido êxito, deu-se a subida dos nazistas ao poder. Com Hitler, Heidegger obteve a reitoria da prestigiosa Universidade de Freiburg. Para isso, é verdade contou com a futura prisão e extermínio de seu mestre, o também grande filósofo, o judeu-alemão Edmond Husserl. Executado, sem que Heidegger se mobilizasse para impedir, utilizando-se do mínimo do respeito que gozava junto aos execráveis nazistas.

O programa apresenta todo o processo. Ao final, em depoimento, seu filho mais novo, tenta, em vão, apresentar justificativas para o ato hediondo de seu progenitor.

Todavia, em depoimentos, escritos ou falados, ou mesmo através do silêncio omisso, Heidegger não demonstra arrependimentos ou vergonha de sua calhorda atitude.

Na semana passada, por conta das exigências do currículo, comecei a trabalhar com o nono e oitavo anos do ensino fundamental, a película “A Queda”, a qual trata dos momentos finais do nazismo, sua derrocada, na segunda guerra mundial, frente a chegada dos russos a Berlin.

Óbvio, trata-se de um docu-drama, obra meio real, meio ficcional, na medida em que, nenhum roteirista, ou quem quer seja, que não aliado do líder nazista, estava presente no bunker, onde ocorreu seu provável suicídio.

Verifiquei que o filme procura dar a Hitler -como se fosse possível- uma feição humana, procura apresentar um humano – duvido que o fosse -, oscilando entre o poder, a inevitável derrota, a aceitação amarga da mesma. Envelhecido, doente, deixando escapar alguns lampejos de ternura. Balela!

Era um monstro assassino para o qual, no máximo, devemos delegar desprezo e asco.

Num momento da obra em que está próximo a Hitler e Eva Braun colocarem termo à vida, a esposa de Goebbels se aproxima, se ajoelha diante do líder nazista e, aos prantos lhe implora para não se matar. Segundo a imbecíl, o mundo perderia o sentido sem o nacional-socialismo. Para corroborar: ela e o marido executam os seis filhos, crianças envenenadas com cianureto.

Qual o motivo dessas reminiscências recentes?

Apenas para relembrar: o humano não aprende pelos próprios erros. Está fadado a recometê-los. Talvez piorá-los.

A triste e deprimente lição do nazismo não deixou aprendizados, me parece. Por ventura, poucos tenham aprendido.

Ilustro o que digo com dois pálidos exemplos recentes: sábado passado um idiota entrou em uma boate gay em Orlando, nos Estados Unidos. Auxiliado pela vagabunda e permissiva lei de aquisição e porte de armas, somada a uma cultura doentia, de gente psicótica, e disparou contra centenas de pessoas que apenas se divertiam. Em números oficiais de domingo pela manhã, havia assassinado cinquenta e ferido cinquenta e três.

Em que pese haver justificativas do mesmo pertencer ao Estado Islâmico, não sei e não me interessa, o depoimento do pai me enojou: afirmou que a cerca de dois meses o exterminador esteve em Miami e presenciou dois homens se beijarem. Por isso revolver matar meia centena. Não fez mais por ter sido morto pela polícia.

Em resumo: não gosto de gays. Logo, mato-os.

Volto-me ao nazismo: o que está por traz é o extermínio de etnias, orientações ideológicas, escolhas religiosas ou ausências dessa. Ou melhor, me incomoda o diferente. A base do arcabouço de Hitler e seus vermes. Os quais, putrefatos ainda produzem um esterco que gera muitos seres abjetos iguais.

Por fim: derrubaram a Dilma. Golpe bem sucedido.

A corrupção continua. Os corruptos continuam à solta. Os esquemas continuam a proliferar. Não se fala mais, ao menos com o mesmo ímpeto e alarde, das operações lava-jato e congêneres.
A economia continua a mesma.

Onde estão os fundamentalistas batedores de panela? E as manifestações contra a corrupção?

Convenço-me que a “Senhora Goebbles” deixou herdeiros.