A Física do Amor

25/01/2014 14:20

Poetas, filósofos, há tempos buscam defini-lo. Bem ou mal sucedidos? Não importa.

Platão, meu velho, desculpe-me! O amor não é ideal. É real. Existe no mundo dos sentimentos.

Amor, Ágape ou Eros, é um sentimento/sensação que oscila, como uma dança, entre os portais do céu e do inferno. Uma espécie de tensão entre “neikós” (ódio) e “philia” ( amor), como diria Empédocles de Argrigento (Século V a.C.): É construir/destruir/reconstruir cotidianos, sem monotonia, por mais monótono que seja. É a guerra! (aqui penso em Heráclito de Éfeso).

Física é movimento dos corpos. O amor também o é. Corpos que se movimentam, sofrem, alegram-se, entristecem-se, romantizam-se, dramatizam-se, ridicularizam-se até (vide Fernando Pessoa). Todavia, é vida. Eros, não Tanathos. O movimento remete-nos ao oposto, ao contrário. Às vezes negação, às vezes síntese.

“Pois quando estou amando é parecido com sofrer”. (Luis Melodia)

É trágico. Somente da verdadeira alegria nasce a tristeza. Apenas da dilacerante dor brota a felicidade (Kálil). È melhor ser alegre que ser triste. (Vinicius de Moraes e Toquinho).

Não há receita, fórmula mágica ou objetividade. Vivê-lo, requer coragem. Aceitar o trágico, lançar os dados (aqui, remeto-me a Mallarmé e Nietzsche).

Coragem, sim, na medida em que se recomeça todos os dias. Destrói-se e Refaz-se. Há perdas e ganhos. Nascimento e morte. Não morre. Ressurge. Se há ainda querer, cumplicidade, comprometimento, intencionalidade.

Muitas vezes a embriaguez letárgica do tédio ou o delírio irresponsável e imbecil tiram-nos, momentaneamente, a dimensão do sentir. Todavia, se o amor existe, ei-lo. Revigora-se.

Das “pequenas bobagens, que consistem no viver”, como nos diz o poeta Paulo Leminski (1944-89), construímo-lo. Porém, com páthos. Dores, alegrias, tragédias, comédias, acima de tudo, disposição para o porvir.

Essa física, movimento intenso e perpétuo, acometeu-me há mais de dezenove anos, agosto de 1994, para ser preciso, momento em que, apaixonei-me pela minha Mulher Jacqueline. Desde então, vivemos a paixão, alegrias, dores, tragédias, comédias, dramas, crises, paz, aprendizados. Muitos. Devo a ela. Eterna gratidão por existir-me e fazer-me existir, ou melhor, re-existir, recriar-me. Suas palavras, muitas vezes, dilaceram-me, porém, edificaram-me. Refizeram-me. Por ela e para ela, sou um novo homem. Aprendo. Amo. Vivo. Reflito. Intensamente.

Devo a ela a coragem de escrever, de produzir intelectualmente. Restitui-me o cerne, o equilíbrio. A justa medida aristotélica entre a razão e a emoção. Amadureci ontologicamente.

Jacqueline, amo-te. Acredite!        

Em “Carta a Ton. 74”, de Vinicius e Toquinho, há um verso que diz: “É preciso reinventar o amor”. Brindemos a isso!

Um grande Beijo, com Amor.

PS: Querido Schopenhauer, perdoe-me o trocadilho com sua bela obra.