A Carne é Fraca... E podre. “Mentiras sinceras me interessam...”.

19/04/2017 08:16

O final da semana passada reservou uma surpresa meio óbvia: há podridão, sacanagem nos negócios da carne.

Qual é o espanto? Qual é a falta de espanto?

Num país cuja “cultura” fora forjada na corrupção, no “rouba, mas faz”, no “roubar só um pouquinho”, “ele é ladrão, mas é gente boa”, ... Nada disso surpreende.

Confesso, não fiquei nenhum um instante surpreso com aquilo que lera. Apenas mais uma dentre tantas “mutretas” dessa corja, quero dizer, “classe político empresarial”. Afinal, a lógica e a “Ética” capitalista ensinaram: O lucro acima de qualquer coisa!

Patético ver a capa da Folha de São Paulo na segunda-feira: O golpista preparando-se para abocanhar um pedaço de picanha. Qual será o frigorífico que servia a carne? Será que era um do esquema? Não acredito.

Outra foto, estampada nesse rotativo, mostra-o com uma cara de babaca – pleonasmo vicioso – rejeitando novos nacos da “proteína”. Essa foto foi brilhante. Deixando-o ainda mais ridículo.

Sempre me volta à frase de Goebbels: “Verdade é tudo aquilo que é repetido várias vezes”.

Assim, no geral, todos continuam a se iludir que as coisas possam melhorar.

Um corte rápido nessa imundice, para tratar de outra sujeira: sábado, no Telecine Cult, assisti ao filme: “Trumbo”. Película que aborda aquele que é considerado pelos maiores nomes da indústria do cinema como o maior roteirista: Dalton Trumbo.

Conheço-o há muito. Assisti a seu único filme como diretor: “Johnny vai à Guerra”. Uma história claustrofóbica. Um idílio contra a guerra e seus horrores. Johnny é um soldado mutilado: sem braços e pernas, resta-lhe a consciência, pensamentos e traumas. Impactante e belo!

Trumbo sofreu ao seu tempo. Pagou pela genialidade e compromisso. Militante do Partido Comunista dos Estados Unidos, bem como uma grande quantidade de roteiristas, diretores, atores, atrizes e técnicos, opunha-se ao crescimento do nazi fascismo e das injustiças e opressão.

Em 1947 John Wayne – ícone dos republicanos, racistas e reacionários – uma espécie de “proto-trumpista”, aliado a Hedda Hooper, também da mesma “estirpe”, começam o “movimento” em nome da defesa dos ideais norte-americanos: na verdade do “american-way of life”. O ódio a todos aqueles que são e pensam diferente. Base para a ação de McCarthy. A famosa “lista negra”. Até o nome é racista.

Trumbo havia acabado de assinar um contrato com a MGM, o qual o transformava no roteirista mais bem pago de Hollywood.

O casalzinho fascista pressionou Louis B. Mayer. Esse demitiu Trumbo. O roteirista e os demais militantes foram intimados a depor numa espécie de “santo ofício”. Acusados de “atividades antiamericanas”.

Foram impedidos de trabalhar.

Depois de amargar três anos na cadeia, para sobreviver, Trumbo começou a escrever roteiros à exaustão para uma produtora de filmes “D”.

Aliás, na película em questão o dono dessa produtora – King Film Productionss – é um tipo impagável construído pelo ator John Goodman. Brilhante!

Ao cabo de trinta e seis meses, Dalton Trumbo entrega ao empresário o roteiro “Areias Sangrentas”. Alerta: “- Tenho uma péssima notícia: o filme é bom”.

Ganhou o Oscar de melhor roteiro. Detalhe: Trumbo já havia vencido com o a obra “A Princesa e o Plebeu”. Ambos anônimos, isto é, com um pseudônimo. Não pode recebê-los. Afinal estava na lista.

Kirk Douglas e o diretor Otto Preminger procuraram-no para trabalhar. Asseguraram-no que seu nome constaria dos créditos das películas. Roteirizou “Spartacus”, protagonizado pelo ator e dirigido por Stanley Kubrick e “Êxodos”, dirigido pelo cineasta austríaco.

Ganhou novo Oscar com “Spartacus”.

“Passando por cima” da maldita lista.

Trumbo foi recuperado. Resgatado como homem e artista. Antes de morrer recebeu os devidos créditos e honras.

Morreu livre.

A verdade veio à tona.

Assim espero que a mesma emirja da podridão, dos esgotos fétidos da carne podre do poder escatológico dos golpistas.

Por falar em escatologia: vem aí nova lista: Essa fechada. Para você – livremente – escolher o candidato que o “partido” mandar.

É a reforma política!

Bom filme.