A Arte de Não Fazer

16/11/2016 22:43

O título tomei emprestado de um texto cujo autor já gostei muito. Trata-se do poeta Ferreira Gullar. Mantenho por ele um respeito geriátrico, isto é, pelo que realizara no passado. Hoje, em minha opinião, é apenas um velho reacionário em defesa do neoliberalismo.

Todavia, não são essas “coisas” objeto de minha proposição. Arte aqui apresento como “Arete”, isto é, virtude. Virtude de não fazer? Exatamente. Como ócio. Palavra que soa musical. Agrada o cérebro e a carne.

Com carga de trabalho humanamente absurda, eu e a minha esposa, Jacqueline, temos pouco tempo para desfrutar o não fazer nada.

Felizmente o golpe da proclamação da república aliado ao bendito (?) ponto facultativo – coisa tão brasileira – permitiram um hiato de pausa na labuta e um pequeno espaço de ócio.

No Sábado, feliz com o êxito da atividade na COPERE – merecidamente, pois, estava bela -, Jacqueline e eu nos entregamos a algo pelo qual nutrimos paixão comum: a leitura. Em particular líamos jornais.
Minha mulher fazia uso do computador. Sugeri que acessássemos o “YOUTUBE” e clicássemos nas músicas dos Rolling Stones.

Próximo das primeiras horas da tarde, abri uma garrafa de cerveja. Música – de verdade – combina com o divino néctar.

O passo seguinte foi acender a churrasqueira. Carne na brasa, salada, cerveja. Mais cerveja e os Stones ao fundo.

Vivemos o “momento que passava”, uma tela de Renoir, Monet, Cezáne, Van Gogh, por exemplo.

Descontraímos-nos, rimos, conversamos, pensamos. Pelo prazer de fazê-los. Sem a preocupação da passagem das horas, das obrigações e afazeres cotidianos.

Foi ótimo.

Pude sentir pulsar a paixão e o amor que nutro por minha mulher.

É um momento religioso, na medida em que, em paz consigo, com outro e com o mundo, nos reconciliamos com o divino.

Revigora. Fortalece. Ensina.

O ócio nos fortalece com ideias para o povir.

Fim de tarde. Refeição feita. Bebida tomada. Som ouvido. Momentos usufruídos.

Pausa: sono revigorante. Sem remorsos ou culpas. Dormir e pronto. Dane-se.

Anoiteceu. Estamos inteiros.

Amanhã (Domingo passado) levar a Sophia para prestar os exames vestibulares na UNESP.

A realidade continua, “sem ideal, nem esperança...”, todavia, estamos prontos a encará-la.